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Ermínia Maricato faz alerta sobre reforma urbana no Brasil

Arquiteta resgata história e apresenta diagnóstico diante da crise dos espaços urbanos no país durante o II Congresso Estadual AEARV em Bento Gonçalves

 

O principal ponto do discurso da arquiteta Ermínia Maricato é marcado pela perspectiva clara de que as dificuldades urbanas do país podem ser contornadas a partir de uma luta pensada e realizada pelos trabalhadores, jovens profissionais e a própria comunidade. Em uma palestra contundente e esclarecedora, a professora livre docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP envolveu os participantes do II Congresso Estadual AEARV ao enumerar os problemas urbanos do Brasil. A partir do tema “Para entender a crise urbana” – mesmo título de seu mais recente livro – Ermínia Maricato apresentou um diagnóstico da situação do país, resgatou a história, embasou argumentos e fez previsões sobre o futuro da urbanidade.

Segundo Ermínia, apesar da crise urbana ser algo próprio do capitalismo, enquanto sistema, as características históricas brasileiras são consideradas como fundamentais para a compreensão dessa crise. “Estamos construindo cidades para quem? Enfrentamos uma assombrosa desigualdade social e urbana do país”. A centralidade da questão da terra, tanto no campo quanto na cidade, está entre um dos principais fatores de acumulação do capital no país. “Este é um dos motivos pelos quais nem a reforma agrária, nem a reforma urbana se concretizaram. Quando vemos as precárias condições de vida da maior parte dos trabalhadores que vivem segregados nos bairros periféricos ou municípios-dormitórios entendemos a necessidade da reforma urbana”, comenta.

Para a arquiteta, o papel dos profissionais deve estar na erradicação do “analfabetismo urbanístico”. O caminho da mudança está em trazer reflexões teóricas e políticas que auxiliem a compreensão da lógica de funcionamento e de organização do espaço urbano a partir da perspectiva da luta de classes. “O desafio está entre o capital imobiliário, industrial e financeiro que conta com o apoio do Estado e da mídia, e o trabalho cuja força reside na organização e na luta popular”, ressalta a professora.

Durante a palestra, Hermínia Maricato também destacou que cidade viva é cidade ocupada. “Cidade para quem? A única maneira de impedir a morte das cidades e intensificar as relações entre o meio urbano e as pessoas, é despertando o interesse genuíno por elas. Mas para isso é necessário um trabalho intenso, com demandas pontuais e urgentes. Não adianta fazer o urbanismo do espetáculo passando por cima de décadas de demandas atrasadas”, afirmou.

Ao contextualizar e resgatar a história urbana do país, Erminia deixa claro que o arcabouço legal no Brasil é rico e com boas intenções para a população. No entanto, algumas leis e novas propostas esbarram na falta de conhecimento sobre a dimensão dos nossos problemas. “Os modelos internacionais são lindos, mas muitas vezes não se aplicam a realidade daqui. Sofremos de analfabetismo urbanístico, com leis cheias de apenas boas intenções. Neste sentido, nossa profissão é necessária para construir uma cidade para o povo”. A solução, segundo ela, deve estar no trabalho coletivo e focado. “Um atleta sozinho ganhando medalha de ouro em uma Olimpíada não resolve o problema das mazelas do Brasil. Uma juventude inteira precisa estar praticando esporte e deixando de ser carne pro moedor do crime organizado. Nosso futuro deve ser bom, temos capacidade para isso”.

Além de estudiosa do tema, Ermínia Maricato formulou a proposta de criação do Estatuto das Cidades e do Ministério das Cidades e foi secretária de Habitação de São Paulo (1989-1992). Entre suas outras publicações estão os livros “O impasse da política urbana no Brasil” e “Brasil cidades”.

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